"Na montanha do lobo fique em silêncio; na montanha do urso faça barulho..."
Se é certo que nem todas as mulheres são iguais, também é verdade que os homens não o são. Já abordei várias vezes este assunto, mas foi preciso chegar o Natal para mais uma vez voltar a considerar as diferenças de cada um. Considero mesmo que nós, raça humana, continuamos a tentar comparar aquilo que não é comparável. É absurdo exigir de um homem comportamentos que são exclusivos das mulheres e vice-versa.
Senão vejamos: não cabe na cabeça de ninguém pedir à namorada para ir ali atrás daquela árvore fazer xixi porque ninguém está a ver, da mesma forma que é descabido exigir que um homem seja a melhor companhia para ir às compras ao Colombo a um Domingo! Se até aqui estamos todos de acordo, a coisa complica-se quando se exige que o homem tenha os mesmo comportamentos sentimentais que uma mulher. E até é lógico, mas a verdade é que constantemente somos assolados com responsabilidades que pura e simplesmente não fazem parte de nós.
Será aceitável exigir a um homem que tenha vocação para tratar do seu filho? Com certeza que esse será o sonho de todas as mulheres, contarem com o apoio do marido nas tarefas da casa. O que poucas as vezes se lembram é que para tudo existe gente talhada na vida. Se me perguntarem se gosto de electrónica, direi imediatamente que não, mas deverei eu ser capaz de algum dia ter arranjar o brinquedo de um filho meu?
É facilmente percebível que mulheres e homens acabam por ser fruto da sua educação e dos seus interesses, e é provavelmente aqui que se definem cromossomas e personalidades. As mulheres são criadas para criar. Toda a sua educação é talhada e moldada para a criação de filhos, a começar pelas bonecas e bebes amestrados que fazem xixi, falam etc. Quando perguntamos o que querem ser quando forem “grandes”, não hesitam em responder veterinária, médica ou enfermeira. Está-lhes no sangue ajudar os outros! Os sentimentos de carinho desabrocham mais cedo e parece que quando damos por elas, estão umas mulheres! Quais lobas defensoras das crias, que tratam da flora e da fauna, e passeiam a horas vagas quando a luz desaparece.
Já o homem é por natureza o contrário. Não somos educados para criar… Somos educados para sermos bombeiros, polícias, para darmos tiros aos ladrões e andarmos de carro que nem loucos! Ninguém quer ser médico quando é pequeno senão com o desejo implícito de poder ver tudo o que está por baixo das saias das meninas! É verem como falamos com um ginecologista… com respeito, adoração! Sortudo hã… Mesmo a maternidade, da qual somos apenas participantes, assusta-nos. A maior parte desmaia no momento mágico, e os que não desmaiam, estão lá fora a fumar cigarros atrás de cigarros. O homem não pensa em ter filhos, nunca foi criado para tal, fez… e pronto. Alguns arrependem-se, outros dizem que foi azar, e outros sorriem simplesmente denunciando o desejo assustador das mulheres que, sem perceberem, tornou-se seu também. Depois é pedir-lhes para mudarem fraldas e dar de biberão quando nunca agarraram numa coisa daquele tamanho que não tivesse um nome de uma peça de motor. E o mesmo acontece com as datas de aniversário, com os pedidos de desculpas, o gosto pelas flores, os carinhos, a voz doce… exigências que não têm cabimento nenhum no universo masculino, mas que à força de “sabe-se lá o quê” é-nos impingido como obrigação!
Por tudo isto, acredito que este texto não será só uma descontracção natural ou um estudo anexo, mas decerto um manual científico que muitos irão guardar e imprimir para mostrar a amigas, namoradas e mulheres que, tal como há 1000 anos atrás defendiam os japoneses, lobo e urso são diferentes. Os seus comportamentos, os seus interesses, a sua educação bem como as suas reacções. E não há que descriminar, há que compreender e respeitar essas diferenças. Por favor, não nos queiram fazer iguais!
Participe já na nova sondagem na coluna da esquerda ou clique aqui!
Por mais humilde que seja, um bom trabalho inspira uma sensação de vitória…
Amanhã inicio o meu primeiro trabalho. Tenho pavor do que possa acontecer, das pessoas que não conheço, da estranheza das palavras, do medo, da incapacidade e sobretudo da descoberta por outros de alguma da minha ignorância. Se é certo que me sinto seguro perante as decisões mais difíceis e disposto a correr riscos, também é verdade que as pernas tremem cada vez que penso em voltar àquele escritório.
Foi há três semanas que fui chamado para a entrevista, concorri ao lugar de estagiário e por mais estranho que pareça dos 23 currículos que enviei, este foi dos locais onde me responderam em menos de 48 horas. E não pensem que é por falta de qualidade, trata-se de uma multinacional que recruta jovens dando-lhe boas regalias associadas a uma formação constante no estrangeiro. Eu fui dos poucos que aceitei as condições, afinal de contas nada me impede de passar umas semanas em Londres ou Frankfurt para uma formação que rapidamente pode ser valorizada. Investiram em mim e nas minhas capacidades, e eu sei que a fasquia é alta.
O que mais estranhei foi a idade dos trabalhadores. Pese embora este seja um dos maiores escritórios de advogados no mundo inteiro, e obedeça assim à sua sede nos Estados Unidos, a filial em Lisboa destaca-se sobretudo de um carácter jovem onde só oito pessoas num total de perto de cinquenta, têm mais 45 anos. A directora de recursos humanos tem perto de 29 anos, e depois de me reconhecer de algum bar ou discoteca de Lisboa, não hesitou em incentivar-se dizendo: Não se preocupe Sebastião, vai ver que se vai dar muito bem… Estendeu um cartão de visita onde tinha anotado pelo seu punho o número de telemóvel. Sempre que me dão um daqueles cartõezinhos fico com a ideia que é uma forma “profissional” de engate barato.
Uma semana e pouco depois, liguei para a Inês confirmando a hora exacta para começar a trabalhar e mais algumas duvidas que entretanto me haviam surgido. A sua postura foi deveras agradável e rapidamente me apercebi que algo mais a motivava que eu fosse seu colega do que simplesmente as minhas qualidades profissionais. Propôs-me passar pelo escritório no final do dia para falarmos com mais calma. É impressionante sentir que quanto mais nos dificultam estarmos ou falarmos com uma pessoa, mas isso desperta o nosso interesse. A Dra. Inês é talvez das mais respeitadas na empresa e sempre que digo o seu nome as expressões mudam, o sorriso aparece e começam sempre por me indicar um sofá e oferecer água.
Quase 40 minutos depois a Inês desce e pede-me mil desculpas pelo atraso mas uma conferência telefónica inadiável acabou por amarrá-la ao escritório sombrio. Com um sorriso profissional e o cabelo apanhado, a Inês solta o seu primeiro ataque: “-Aceita comer qualquer coisa e falamos durante o jantar?” Era impossível recusar e num instante percebi os recursos humanos de quem trabalha nos recursos humanos… Acaba por ser como a pesca, são de tal forma eficazes que acabamos por nem perceber se quem nos pescou foi o anzol ou o pescador. Fomos jantar a um restaurante chinês no centro comercial que está mesmo por baixo. Era impossível não ter reparado como a saia justa dava-lhe contornos perfeitos e em como o terceiro botão da camisa estava propositadamente desapertado mostrando o seu peito bronzeado. A meio do jantar a Inês já não era mais a Dra. e largava a máscara para incorporar o papel de menina.
Contou-me pouco da sua vida embora tenha realçado que não tem namorado por opção (dela subentenda-se!) e que vive sozinha num apartamento para os lados do Bairro Alto. Está na empresa há 6 anos e admite que não há melhor ambiente do que naquele escritório. Concordei e enalteci o papel da senhora directora! A Inês é inteligente e percebeu que entráramos na fase da reciprocidade. Estava de tal forma confiante que à saída não fui capaz de me conter: “-Quer ir beber um copo?” No mesmo minuto em que o disse, arrependi-me. Afinal o que estava eu a fazer a convidar a minha directora para um engate? Afinal de contas o jantar foi "light" e embora a conversa estivesse sempre animada, a Inês soube controlar não dando hipóteses para eu tirar qualquer ilação.
“-Agradeço-lhe imenso Sebastião, é muito simpático da sua parte, mas estou cansada e ainda vou levar trabalho para casa. Obrigado na mesma...” Não o senti como uma tampa, afinal de contas foi muito bom no dia seguinte não ter recebido um e-mail a desconfirmar a minha contratação com uma desculpa qualquer. Não sei se da excitação ou do nervoso, começo a equacionar até que ponto as relações profissionais se podem misturar com as relações pessoais. Poderá ela acusar-me de assédio algum dia para, com o meu despedimento, reduzir custos na firma? Ou continuaremos nós num mundo de Zézés Camarinhas do "vale tudo", até no emprego? Amanhã será novamente o frente a frente e embora esteja derrotado por uma noite, há ainda um trabalho que decerto me irá garantir muitas mais possibilidades de jantares profissionais...
Depois do verão e de digerir vinte revistas cor-de-rosa, é hora de desenterrar velhos tabus que continuam a deixar homens e mulheres a pensar. Se os olhos ficam quase cegos de tanta cor das revistas, é certo que nos deixa a todos várias dúvidas existenciais. A quantidade de gays, lésbicas e “bis” nas revistas é tanta, que a dada altura começamos a questionar se a nossa mente é retrógrada, ou se faltará descobrir algo mais sobre nós... Quem nunca pensou como seria se tivesse o sexo contrário? É certo que a maior parte só pensa, daí até começar a agir como um ser do outro sexo parece ser necessário aparecer nas revistas.
Eu próprio nunca dediquei muito tempo a questionar como seria se fosse mulher, aliás, diariamente me deparo com mil e uma situações que rapidamente desencorajariam qualquer um. Na verdade fico contente por não ser mulher, por ter tido essa “sorte” no tal cromossoma que nos faz ter um e não múltiplos orgasmos. A referência não foi ao calhas, essa é talvez das poucas coisas que invejo no sexo oposto.
Para começar, imaginam o que seria ter de mudar um penso quatro em quatro horas? Só pelo consolo usava tampão, assim sentia sempre algo dentro de mim! E porque insistem em chamar pensos higiénicos aquilo? Qual é a higiene daquilo? Todos os homens com curiosidade já abriram um tampão e depois de muito investigar a técnica da coisa somos unânimes: construímos casas, aviões, cidades da Lego e até fomos à lua mas aquilo não é fácil… aquela história do aplicador devia vir com um livro de instruções! E eu, se fosse rapariga, nunca metia uma coisa daquelas dentro de mim! A menos que se chamassem pensos de sangue... como os chouriços, os chouriços de sangue. São ambos feitos do mesmo, logo o mesmo nome. Aí sim, existiria uma razão de ser…Mas não, era demasiado agressivo para as “teenagers” de 12 aninhos.
Se repararem quando o período aparece a uma miúda, o pai fica impaciente, desconfiado, cheio de reservas e automaticamente começa a receber cartas de seguros, PPR’s e folhetos da loja de roupa para crianças lá do bairro. Parece que eles adivinham e têm aquilo estudado para começar a atacar assim que se inicia um novo ciclo menstrual. A partir desse dia, desaparece o sossego de uma família unida e feliz à hora de jantar. E depois são os namorados, parecem furões a rondar a casa, não descolam enquanto não repetirem os episódios das colegiais do Sexy Hot! Outra característica que merece análise são os anúncios. Fico horas a pensar quem serão as mentes brilhantes que recebem para fazer aqueles anúncios… Sugiro que inventem uma categoria especial para os anúncios de pensos imediatamente! As flores e piscinas, as tangas, os bonecos, a Natália Verbag? Dou comigo a achar que vivo noutro planeta! E no final reparem que dizem sempre o site na Internet (já se resolve a menstruação em algum blog?) e ainda oferecem uma amostra grátis...
Estou convencido que a maior parte das amostras são enviadas para os miúdos pervertidos que querem ver como aquilo funciona. Depois sentem-se demasiado burros e acabam por deitá-lo no lixo até que a mãe está a descascar batatas (pausa) Já ninguém descasca batatas! Irrita-me que agora é tudo de pacote, o que é feito das batatas? É que nunca mais as vi… (continua com reformulação) Até que a mãe está a descascar cenouras e vê um penso no lixo entre o pacote de leite e os cigarros do pai e lá se vai o jantar! Será possível termos atravessado os loucos anos setenta, inventamos aviões supersónicos, fomos à lua, fizemos guerras e chegámos a outros planetas, conseguimos colocar um computador em cada cinco habitações, e não resolvemos o problema da menstruação?
Mas será assim tão difícil perceber que seria o maior nicho de mercado que já se conheceu depois da pílula? Com a vantagem de não conhecer nenhum homem que fosse à farmácia comprar a pílula à mulher, mas consigo visualizar tantos que se atrasariam ao jogo do Sporting só para terminar com aquele maldito período…
A festa estava programada há meses, e tão só a vinda de meia dúzia de cantores de renome internacional a Portugal, iria de uma vez por todas arrumar o meu coração. A organização prometia 100 mil pessoas para o maior festival de rock em Portugal e essa era sem dúvida a altura ideal para curtir a noite, o espectáculo, e finalmente a atracção principal: ELAS!
Impressionante foi a visão dantesca de ver milhares de pessoas espalhadas por um relvado, algumas sentadas, outras já deitadas e enroladas a aproveitarem o “pré” antes que comece o cansaço. Entre voltas e mais voltas, propaganda e muito rock, vi por todo o recinto pessoas conhecidas a que falava já acusando umas cervejas a mais. A dada altura, numa música mais lamechas, decidi mandar uma mensagem a alguém que tem vindo constantemente a deixar-me embaraçado. Pessoalmente e emocionalmente. “Onde é que a menina anda? ;)” Antes mesmo de apagar o relatório de entrega do telefone, já estava a receber a resposta: “No mesmo sítio que tu! Onde é que haveria de estar?” Rapidamente olhei para os lados à procura do tal fenómeno “Big Brother” ou na versão actual “Big Sister” que me estaria a controlar. Não a encontrei, mas o facto de saber que eventualmente me tinha visto (e acompanhado) não me deixou à vontade pois poderia ser comprometedor. Acabei por encher-me de coragem e fazer um convite atrevido, qual proposta indecente: “Não deverias estar ao meu lado? Agarradinha e a receber beijos por esse corpo? :p” Se por um lado tentava espicaçar-lhe o seu lado mais feminino, por outro tentei que por momentos fizesse força com os joelhos e se lembrasse de mim. E a resposta não tardou novamente em chegar: “Já estás muito bem acompanhado… Diverte-te!”
Desisti desta inovação do telegrama e liguei-lhe. Expliquei-lhe que estava a confundir tudo e que gostava de estar com ela, talvez as músicas mais lamechas de Sting me tenham feito recordar momentos tão bons que sentisse falta de um afecto que é reconhecidamente positivo. Combinámos que viria ter comigo a seguir ao concerto. Aceitei, não tinha outra hipótese, era isso ou nada. Admito que a data altura a minha vontade de me manter ali não era nenhuma, queria desistir daquela viagem e abandonar de imediato o recinto onde todos faziam questão de estar. Mas aguardei e assim que terminou o concerto fugi numa volúpia para casa onde aproveitei para descansar um pouco.
Esperei-a pacientemente e entre duas chamadas garantindo que estava a chegar, aproveitei para tomar um banho. Assim que chegou pergunta-me surpreendida: “Mas o que se passa contigo Sebastião, estás tão ansioso porquê? Passa-se alguma coisa?” Percebi que não comungava da mesma saudade e que friamente tentava conduzir as questões para um ambiente distante e demasiado racional. Ainda de "boxers" e com uma t-shirt qualquer, sentei-me no sofá para “conversar”… Não era esta a minha vontade, só me apetecia agarrá-la e dizer o quanto tenho sentido a sua falta, das nossas conversas, do cheiro da sua pele e das tão viciantes mensagens queridas logo pela manhã. Um homem pode rapidamente apaixonar-se pelas mensagens que contenham palavras como “kido”, “amo-te”, “borracho”, “morro de saudades” e mais de 1000 expressões que nos amolecem como crianças mimadas.
Mas esse não era o espírito dela e assim que começamos a falar, e enquanto abria de vez o meu coração dizendo o quanto tenho descoberto que é importante para mim, e em quanto o tempo me fez perceber as saudades que tenho dos tempos, dos lugares, dos cheiros e das refeições que fizemos juntos, ela mostra um olhar atento numa cara algo amargurada. Faço-lhe talvez a pergunta que mesmo gostaria que me respondesse: “Não sentes o mesmo?” Baixou a cabeça e ao mesmo tempo que fazia senti como que o tecto a desabar-me em cima. Estava a seus pés, pedindo-lhe que se recordasse do passado, propondo um futuro, pedindo que acreditasse nas minhas palavras e ao expor-me demasiado, sentia agora o erro de o ter feito.
Um pouco a medo, foi lançando frase feitas na conversa, que ao mesmo tempo que era suposto ir digerindo, estavam indubitavelmente a macerar todo o meu castelo de areia. A revelação de existirem outras pessoas na sua vida deixou-me ciumento, até demais para o normal, e não queria ouvir mais aquilo que me contava, mas queria saber tudo. Um saber mórbido que me magoava a cada pormenor e na imaginação fértil que ia desenhando, tentando idealizar alguém a beijar a sua boca que não eu. A propriedade é sem dúvida dos direitos mais alienáveis, e nos meus pensamentos bruscos só me vinha a imagem de alguém a usar daquela que eu amo. Depois de me contar tudo, dos namoros que manteve e vai mantendo, fui incapaz de entrar no jogo e abrir o meu jogo. Quando tentava e idealizava um possível amor, era inconcebível contar-lhe também as aventuras que fui mantendo durante este tempo em que estivemos separados.
Ao abrir-me o seu coração das mentiras e “traições” que me tem escondido, sentiu-se desinibida e ao contrário do que estava à espera, havia talvez agora mais um motivo para estarmos juntos: o ela não carregar nada escondido dentro de si. Fomos directos para o quarto e enquanto beijava a sua pele e gozava de todo o momento, sentia-me vitorioso por voltar a ter aquela que eu queria amar, mas triste pelas condições...
Antes de se ir embora, e enquanto escrevia mais um daqueles bilhetinhos que ficariam para sempre esquecidos no espelho da casa de banho, fechei os olhos fingindo-me dormir com pena por ver a Rita fugir-me assim...
Os meus amigos acusam-me de repetir constantemente os mesmos erros com as mulheres. Admito que me venho a repetir sempre na mesma lengalenga que consiste em sentir-me acompanhado e ir dormindo aqui e ali, com esta ou aquela. Seja na cama ou no cinema, num qualquer espectáculo ou num fim-de-semana prolongado quem não gostaria de ter sempre companhia? E compreenda-se que me refiro a compromisso esporádico, tal e qual contrato a termo, sem deveres nem obrigações explícitos, os do momento e mais alguns de charme e boa educação. Talvez por isso seja estranho a tantas mentes o facto de ainda não me ter ainda envolvido a sério com alguém, mas pergunto-me eu: “Para quê?” Recordo-me do anúncio do tal chocolate que dizia “para quê ter algodão quando se pode ter seda?” Não será porventura o algodão o tal casamento, ou o compromisso sério de namoro tendo em vista uma relação a dois, e a seda a tal lengalenga, mas livre e solta de preconceitos, de compromissos, mas cheia de animação sempre diferente e calorosa?
A Filipa é sem dúvida aquela que melhor personaliza este tipo de relação, e se me propusessem neste momento manter-me assim, decerto que não hesitaria. Eventualmente coloco em causa esta posição quando me apaixono por alguém, invariavelmente não tem dado certo, mas há sempre esperança. O caso da Madalena é esse mesmo, embora não saiba como reagir e como me declarar sem colocar em risco a tal máscara que venho mantendo. Outro caso semelhante é o da Rita, que embora sempre apaixonada e certinha no início da relação, não se importa agora da tal “amizade colorida” que não lhe dá garantias de nada, mas sempre lhe ocupa momentos de entretenimento e carinho. Cada vez mais vou reunindo adeptas da modalidade e não querendo constituir uma associação, a verdade é que as sinto mais felizes e no eterno jogo do segredo. Aliás esse é sem dúvida o mais complicado de jogar, obriga a tentar manter “no ar” várias pessoas ao mesmo tempo sem que nenhuma delas se aperceba da outra. Não é que seja importante tal facto, mas é mais interessante e sinal vivo de boa organização.
Esta situação não é estranha a mulheres e homens casados, elas mais do que eles. As mulheres são facilmente desviadas do casamento assim que este deixa de ter o “glamour” do tule e as luzes das velas, e fazem-no em detrimento do segredo. Nada melhor para uma mulher do que lhe confiarmos uma tarefa secreta, mesmo que sem interesse, irá mostrar-se sempre apta para a desempenhar. E um amante é exactamente isso. Quantas não vemos com os números de telefone da escola dos filhos no telemóvel para avisarem à última da hora os atrasos naturais de uma tarde bem passada? Ou das desculpas inventadas à ultima da hora para uma viagem relâmpago ao norte do pais em negócios? Ou o mais usual, as conversas de horas com a super amiga contando-lhe a tal paixão sob o intuito de lhe pedir cobertura para o acontecimento? E no fim de contas confessam-se sem qualquer pudor: “-Não gosto dele, não durmo com ele, não é por causa do outro, mas este é que já não dá mais…” E a minha dúvida mantém-se: “Afinal o que é que não dá? Será o marido igual a todos os outros, ou manter-se ligada a um casamento num século que nos proporciona tanto e aproveitamos tão pouco?”
Não me parece correcto admitir que esta é a regra geral, mas não é exagerado dizer que é o espelho de uma fatia grande da sociedade. Dizia-me no outro dia uma amiga que “é triste ver tantos homens na praia, lindos de morrer a olhar para nós, e termos de nos manter agarradas a alguém que um dia já teve 70 quilos e jogava squash, mas que agora ostenta uma bonita barriga maior do que uma gravidez!" Os símbolos de fidelidade do casamento estão hoje a ser questionados pela felicidade de cada um, e se por lado devemos a todos e a nós próprios aqueles sinais e compromissos católicos, por outro consideramos sempre em primeiro lugar a nossa felicidade. Afinal o que reina primeiro? A tal busca desenfreada em busca de um amor, da cara-metade, da chave certa, ou de alguém que pura e simplesmente nos faça feliz sem assumir qualquer compromisso?
São talvez estas as dúvidas que me vou colocando diariamente e que deixa a todos perplexos pela confusão de sentimentos, a uns mais do que a outros, mas sem dúvida que na análise que vou fazendo, a mim e aos outros, descubro segredos incomensuráveis. Das características que mais facilmente vou reconhecendo nas mulheres é a sua subtileza e o carácter com que conseguem entrar numa casa sem abrir ou fechar uma porta. Aquela dualidade de não estar comprometida mas não estar livre, ou de não estar apaixonada mas também não estar desinteressada, ou até mesmo o eterno busílis de nunca dizer sim ou não… o talvez é a pedra basilar do vocabulário feminino. E esta é provavelmente umas das maiores características da Madalena...
As cartas de amor são como promessas eleitorais, às vezes cumprem-se...
Oito da manhã e acordo sem razão alguma. Era a luz que entrava pela janela que iluminava o corpo dela. Está calor e a Marta está completamente nua deixando o seu corpo ganhar cor perante os raios de sol que teimam em entrar tão cedo pelos buracos dos estores. Ainda não refeito da noite anterior, tive momentaneamente a vontade de a agarrar, puxá-la para mim e enroscar-me novamente no seu corpo nu que se distingue nos lençóis brancos. Depois da cena que fez no Bar, e de passar uma hora trancada no carro a ouvir-me explicar-lhe o inexplicável, rendeu-se ao carinho e à evidência de lhe pedir um beijo. São poucas as mulheres que o recusam, e quase sempre recordam-se das extensas cartas de amor onde entre uma noite de sexo são deixados compromissos de que amanhã tudo será melhor. E assim foi…
Embora tenha-me mantido inerte, a Marta acordou pouco depois decidida a querer acabar a conversa de ontem. Nada mais há a falar, ela sabe que temos muito em comum, mas as diferenças que nos separam são bem mais fortes do que aquilo que nos une. Enquanto se preparava para entrar pela última vez no banho, perguntou-me se não lhe fazia companhia… Ambos sabíamos que era a última hipótese, e nada fizemos para alterar. Assim que saiu, e levou consigo os dois cd’s de shivaree e uma escova de cabelo que fazia questão em manter guardada na gaveta do armário da casa de banho, senti um vazio em mim e só me recordei do beijo proibido que troquei com a Rita. De tão inocente causou furor no coração de todos.
Enquanto a Marta discutia comigo, e a Rita se punha a léguas evitando um escândalo, recebi apoio de uma amiga que já não via algum tempo e que tentava acalmar os ânimos. Embora a Marta se tenha posto no meio, não dando hipótese a uma conversa mais extensa, recordei a paixão que guardo há quase um ano desde o dia em que a conheci. A Madalena é uma figura frequente nos meus sonhos e algumas masturbações, e incrivelmente consegue conjugar o “sexy” com o “agradável”.
Sonho em acordar ao seu lado, de olhar para o seu rosto cansado e beijar os seus lábios docemente esculpidos, acariciar os seus cabelos escuros esticados e um exagerado rol de hábitos rotineiros que, de tão banais, me parecem tão desejados e especiais. De tão pouco que sabemos um do outro, parece que a conheço como ninguém e enquanto anulo uma paixão pela Rita, não há forma de ganhar coragem para me declarar à Madalena...
Na última semana tenho revisto a sua imagem vezes sem conta de uma fotografia que guardo de um dia de praia, um exercício mental que não consigo evitar. Sinto que fomos feitos um para o outro sem sabermos, e de repente dou por mim enamorado por alguém que mal conheço. Trocámos várias conversas banais, entre e-mails que mais pareciam declarações de amor, e uma vez excedeu um pouco mais… mas sem chegar nunca a uma declaração final. Sinto que se aproxima o dia D, o momento em que terei de mostrar que há algo mais de curiosidade que gostaria de explorar. E embora corra o risco de receber um “não”, penso que o meu "savoir-faire" poderá ser meio caminho andado para provar que há algo de incontrolável e verdadeiro que rapidamente se poderá transformar numa relação interessante e madura.
São tantas as coisas que temos em comum que por vezes sinto que a minha pseudo-relação com a Marta não passa de uns beijinhos trocados em ambiente de festa, inofensivos e irracionais. Mas ela faz-me questão de me lembrar as mensagens queridas que lhe mandei, reenviando-as para o meu telemóvel. Quando as leio nem as identifico como palavras minhas, considero mais promessas eleitorais que não fui capaz de cumprir. Tento agora ouvir o coração, ainda que sem aquela força de príncipe, mas com a certeza que não irei passar o resto do Verão em viagens constantes entre Lisboa e Santarém. Que mais cedo ou mais tarde será inevitável descobrirmos mais diferenças que nos separam além dos 70 quilómetros.
Por mais que me custe ver a Marta sofrer e dizer a todo o mundo (e com razão…) que sou um sacana, vou tentar ultrapassar isso não deixando que interfira na boa relação que mantenho com o cunhado. O problema é que o Francisco conhece a Madalena, e será difícil esconder por mais algum tempo esta loucura em que me vou metendo...
É quase como uma receita impossível de errar. Parece estar escrito no nosso código genético que, de noite, os nossos sentidos diminuem dando lugar a um pensamento único e comum: as mulheres. Penso que nem mesmo Sir David Attenborough, de BBC Vida Selvagem, hesitaria em estudar este estranho comportamento filmando as discotecas da cidade cheias de homens que passam horas em esplanadas na Costa da Caparica para mais tarde puderem exibir a sua cor alaranjada, e talvez com isso conquistarem alguns olhares femininos. Mas o truque permanece em manter-se quieto e imóvel, encostado ao bar, de copo e cigarro na mão, de preferência acompanhado pelos amigos que formam a equipa de Rugby da faculdade...
É habitual ver amigas minhas de olho em homens que pura e simplesmente não o percebem... e ainda bem! Se o percebessem ainda fariam pior figura porque, de tal forma não estão habituados, que o normal seria gaguejarem ou oferecerem uma “imperial” entre um piropo falhado. Tento ser a excepção à regra, eu e mais uns quantos que arriscamos meter conversa com eternas desconhecidas. Nunca fui um adepto fervoroso de andar à pesca, mas às vezes surpreendo-me...
A Marta acabou por fazer uma qualquer birra e optou por ir sair com as amigas na sexta-feira. Achei que seria dar-lhe trunfos a mais ficando em casa à espera de um qualquer telefonema ou mensagem e optei por ir sair também… com amigas!
Assim que cheguei ao bar foi recordar rostos e histórias em cada um. Parecia que estava a actualizar a minha base de dados e é impressionante com nos recordamos da vida das pessoas ao pormenor: vi a Filipa que correu direita a mim deixando um tipo qualquer sozinho no meio da pista; ou até mesmo uma paixão antiga que fingia que se divertia na companhia de um amigo enquanto todos sabem que o namorado a deixou e não tem onde cair morta; ou até aquela que conta-se pela cidade ter dado dois valentes socos ao namorado quando ele insistia em fazer sexo anal; reencontrei também um amor jurássico que entretanto envelheceu e fez-me sorrir por felizmente tudo ter acabado; e por fim impressionante a quantidade de amigas casadas que vão sair à noite e deixam os maridos em casa, tudo numa lógica e espírito do século XXI.
A minha avó diria: Modernices! E se calhar são mesmo...
Perante tanta escolha, continuo estupefacto a ver vários homens encostados ao balcão, sem mexerem uma palha, com uma cara de desalento, enquanto na pista é vê-las pavonearem-se com sorrisos e gargalhadas. O clima parece leve, mas é mais ou menos visível uma barreira que separa os dois sexos. Quando me aproximo de um desses espécimen, um amigo que encontro ocasionalmente nessa posição sagrada e privilegiada, inicia-se o interrogatório:
“-Tás bom? Há quanto tempo… epá, quem é aquela gaja que falaste ainda agora?”
“-Quem a morena?” Pergunto eu.
“-Não pá, aquela loura boazona de top branco, ela está a olhar para mim há horas.” A loura boazona que está no momento a aquecer a pista é a Susana, mantive com ela algumas noites de prazer enquanto o namorado andava com a selecção de Rugby a marcar pontos noutros estádios. Recordo que embora o seu corpo seja escultural e bem trabalhado, não considerei noites tão entusiasmantes assim. A Susana não era adepta do sexo oral e cansava-se de me dizer que nunca o faria. Tento perceber a razão que a levaria olhar para este meu amigo, e chego à conclusão que deveria ser um problema de estrabismo. Mas fui tirar as dúvidas...
“-Conheces aquele amigo meu que está ali?
“-Sebastião, gosto muito de ti, mas poupa-me
“-Desculpa, mas pensei ver-te a fazer olhinhos a ele.
“-Olhinhos? Àquela coisa? Se calhar entrou-me alguma coisa para o olho! disse ela enquanto largava uma gargalhada efusiva. Compreendo agora a razão porque ficam eles encostados ao bar e não arriscam um contacto de terceiro grau, uma tampa iria ser desoladora nesta altura do campeonato.
“-Mas não te vás embora, o que andas tu a fazer Sebastião? Ainda de namoro com a Rita?” pergunta-me ela tentando lançar a rede de malha apertada.
“-Onde isso já vai...” respondo eu sem entrar em pormenores actuais.
“-Não vai muito longe, ainda agora aqui passou... Olha ela ali!”
A Rita estava com uns amigos meus que habitualmente não saiam uma noite sem me convidarem. Porém hoje foi diferente, e agora percebo a razão. Embora não houvesse razão para tal admito que o facto de convidarem a minha ex-namorada para sair com eles e não me dizerem nada, deixou-me extremamente ciumento. Fui ter com ela. Agarrei-a docemente por trás, pondo às mãos à volta da sua cintura num gesto sensual, enquanto de frente todos os outros olhavam para mim com um ar sério de presa a abater.
“-Olá Sebastião! Que saudades que eu tinha tuas!” Imagino… tantas saudades que não me liga há mais de um mês. Perguntei-lhe o que andava a fazer e ultrapassada a conversa informal a Rita já está a fazer charme contando histórias sobre nós à restante plateia que assiste inconformada ao espectáculo degradante. Só nós compreendemos o que de importante os amores guardam no nosso coração, para quê tentar contar aos outros e obrigá-los a tal massacre? É óbvio que em segundos começaram a dispersar e deixaram-me sozinho com a Rita. Se é verdade que as conversas são como as cerejas, não demorou muito para a Rita iniciar ao meu ouvido conversas mais provocantes que desafiavam o meu coração. Em menos de nada, enquanto fazia um olhar matreiro, agarrou-me e deu-me um beijo que trazia o sabor a álcool e não a amor como eu poderia querer esperar.
O que decerto não esperava, foi ver dois minutos depois a Marta com a Cristina e o Francisco a falarem com uns amigos. A Marta olhou-me nos olhos mostrando toda a raiva que trazia acumulada das conversas anteriores e ficou à espera que lhe fosse falar. Mas agora mantém-se a maior dúvida, será que ela assistiu àquele beijo inocente que troquei durante cinco segundos com a Rita? Poderá ela compreender que o calor do momento nos leva a ter gestos tão rápidos como inconsequentes? Não quero mesmo estragar este amor e não sei com que cara irei explicar algo que na verdade não tem explicação. Mas porque raio fiz eu aquilo? Chego à conclusão que de noite ninguém se aproveita e tento desculpar-me generalizando que todos os homens são parvos, embora esteja a tremer com medo de ter comprometido a minha última relação.
O amor dá espírito às mulheres e retira-o aos homens…
Quando chega o fim-de-semana, é como o fim de uma longa caminhada pelo deserto: se por um lado chegamos ao fim, por outro estamos cansados... É estranho e a Marta, apercebendo-se da situação, faz tudo para animar e deixar-me à vontade. Este fim-de-semana fez questão de me convidar para dormir lá em Santarém. Aceitei mas denotei algum mau estar nos comentários do Francisco e da Cristina. Percebi que embora gostem da minha presença, consideram um pouco cedo e talvez um pouco imaturo o comportamento da Marta na gestão desta relação. A sua vivacidade e excentricidade natural podem comprometer alguma falta de responsabilidade e bom-senso no andamento de um namoro. Cabe-me a mim manter esse espírito de tranquilidade e maturidade enquanto a única coisa que penso é em atirar-me nos braços dela. Mas agora já não são tão fáceis as escapatórias para dormirmos juntos, e pese embora durante a semana ela passar o tempo todo a estudar, começámos a improvisar em barracões abandonados pela Garça.
Das melhores experiências que tive ultimamente foi quando a Marta me levou às cocheiras para ver um cavalo especial. Era já tarde, e a minha vontade de me estender numa cama era tão grande que, não fora a sua insistência, teria mesmo recusado. O meu carro começa a fazer aventuras cada vez maiores nos terrenos acidentados da Garça e, mantendo-se estas actividades radicais, temo pela sua sobrevivência. Assim que chegámos, a Marta saiu a correr dirigindo-se a um portão de ferro que abriu sem fazer qualquer barulho. Era importante não acordar ninguém na casa principal que tem uma vista privilegiada sobre as cavalariças. Assim que entrei, a Marta agarrou-me pela cintura e puxou-me para uma box que, tal como todas as outras, estavam vazias. Os cavalos tinham sido mudados para umas novas cocheiras perto da casa do Francisco e este era definitivamente o espaço escolhido para passarmos a noite.
A Marta acendeu uma vela, hiper-protegida por causa do feno que se encontrava na sala ao lado, e assim que me apanha deitado numa manta aos quadrados atira-se à minha camisa desapertando-a com a ferocidade que gosto de ver nas mulheres. Uma mulher que demonstra a sua fome é tão gratificante como fazer um “quatro” no totoloto, não é tudo, mas é grande parte. E sabê-lo fazer sem cair em asneira, é ainda mais difícil. No ambiente romântico que de repente se instalou, foi impressionante a reviravolta…
“-Mas desconfias de mim?” disse ela indignada.
“-Mas estás a falar do quê Marta? Desde quando querer usar preservativo numa relação é desconfiar de alguém?”“
-Então não é? Não te compreendo Sebastião, se já fizemos antes sem preservativo, para quê isso agora?” E quando eu julgava que este assunto era indiscutível, dei por mim a ter de justificar algo que não tem justificação, é um direito! A Marta não compreendeu e naquela noite decidiu fazer birra.
“-Ou é como eu quero, ou não é...” E não foi...
Agarrei no carro e voltámos para a Garça. Ela decidiu dormir na casa dos pais, o que não estava combinado, enquanto eu dormi na casa do Francisco e da Cristina. O facto de ter equacionado como importante usar preservativo numa relação jovem, imatura e possivelmente irresponsável veio a tornar-se num mau exercício. Não era essencial, mas fez-me impressão a sua irredutíbilidade perante uma questão de consciência individual. Penso que não seria sério pedir-lhe para usar qualquer meio contraceptivo como a pílula, mas o facto de me querer proteger, ou proteger esta relação, não lhe pareceu minimamente tentador.
Decidi não fazer muito caso do assunto e no dia a seguir tudo correu como normal; talvez tenha ficado aquele sentimento de desconfiança entre nós, mas deixei esse assunto para uma próxima vez. Cheguei a casa e cruzei-me com a Filipa no elevador, a sua saia curta era irresistível mas mantive-me preocupado com o que se passou com a Marta e optei por chegar a casa e tomar um banho frio. Deitado na banheira, questionava se devia ou não ceder nesta minha atitude. "Estarei eu a ser exagerado?" O que está em causa é o conhecimento (ou o desconhecimento) da Marta sobre a sexualidade. A sua juventude é exagerada em algumas questões e parece-me algo retrógrada. Foi importante o debate de questões como a maternidade e o desejo incessante de sair de casa dos pais, dúvidas que me fizeram pensar duas vezes antes de avançar naquela noite romântica. No entanto, e enquanto me enxaguo, persiste-me uma dúvida inconclusiva em jeito de revista Maria :"Estarei a perder o tal espírito do amor?"
Participe já na nova sondagem na coluna da esquerda ou clique aqui!
O hábito muito excessivo dos prazeres impede o nascimento do amor… Parte II
“-Fica Sebastião, amanhã podíamos dar uma volta pela Garça e mostrava-te o meu cavalo... Aproveitávamos e almoçávamos no Alto da Serra. Que dizes Francisco?” Confesso que o meu interesse por cavalos começa no circo e termina na feira popular, no entanto o convite pareceu-me irresistível e o Francisco assim que ouviu falar no Alto da Serra, começou a salivar e a recordar as entradas e o maravilhoso cabrito!
Era impossível recusar tamanha delicadeza e sobretudo a forma como se preocupavam em bem receber. Afinal de contas não tinha nada para fazer em Lisboa, e de vez em quando, até sabe bem passar mais um dia no campo. Confesso que a Marta me estava cada vez mais a conquistar: a sua delicadeza, a voz doce e a alegria que demonstrava na minha companhia, foram motivos mais que suficientes para aceitar.
Reparei no olhar do Francisco que ficou contente por ter aceite, e deliberadamente saiu da sala deixando a lareira acesa e deixando-me sozinho com a Marta. A conversa já ia longa e nem os meus bocejos fizeram demovê-la ao sono. Ela insistia com palavras doces em perguntas sobre namoradas e afins, até que lhe fiz a derradeira pergunta: “-Estás muito interessada na minha vida sentimental… Isso é só curiosidade ou uma parte de interesse?” A Marta não me pareceu minimamente intimidada e responde num ápice: “-Quem disse que é só uma parte?” Para mim estava tudo dito. Quando dei por mim estava no corredor a conspirar como iríamos fazer para dormirmos no mesmo quarto sem o Francisco e a Cristina darem por isso. O velho truque das almofadas por baixo dos lençóis foi a solução escolhida por ela (tão inocente...) e assim que entrámos no meu quarto colocou o despertador para as sete da manhã, antes de alguém acordar.
Enrolados em beijos e ternuras animais, acabamos por fazer amor num à vontade tão grande que até eu me espantei com a facilidade da situação. O seu corpo tremia de prazer e embora não fôssemos muito além do trivial, foi curioso como qualquer falso pudicismo foi deixado literalmente à margem.
De manhã acordei e o sinal que registei da sua passagem pelo meu quarto era o cheiro da sua pele na almofada. Assim que abri os olhos, sorri para o tecto como que feliz pela inocência da situação. Levantei-me rapidamente e fui-me arranjar. A casa de banho é a mesma para os dois quartos, o meu e o da Marta, e assim que abro a porta vejo-a enrolada a secar o cabelo. Fiquei sem saber o que fazer, mas desde logo ela colocou-me bastante à vontade com um bom dia sorridente e um beijo na face. Perguntei-lhe se eles já tinham acordado. “-A Cristina disse para irmos os dois dar uma volta na Garça que eles vão ficar a dormir e depois vão ter connosco ao restaurante.” Pareceu-me justo para todos e este foi o momento em que aproveitei para agarrá-la e levá-la para o duche comigo.
“-Estás doido Sebastião? E se alguém entra?” Tranquei a porta e desfrutei o momento. O seu corpo denuncia bem a pureza da tenra idade: o seu peito bem torneado e a pele lisa e suave, foram como que afrodisíacos para aumentar o meu apetite matinal. Ela entregou-se mais uma vez como uma naturalidade abismal e foi impressionante vê-la a procurar os melhores ângulos para ver no espelho o reflexo dos nossos corpos.
A Quinta da Garça é pertença dos pais da Cristina e da Marta, e pese embora as várias criações e cultivos que desenvolvem nos mais de 100 hectares, há um espaço reservado para cada uma das filhas. Na zona norte, o Francisco construiu uma casa pequena com piscina que lhe confere a privacidade que precisava. Mais à frente estava em construção uma outra casa.
“-É a tua?” perguntei-lhe eu.
“-Não, é para eles. Agora com os miúdos a outra fica pequena para todos…”
“-O Francisco vai ser pai?”
“-Ainda não sabem, a Cristina já tentou duas vezes, mas sem sucesso... talvez por isso ainda não tenham contado a ninguém antes de terem todas as certezas. Mas depois desta estar pronta, a outra casa ficará para mim... Ai sim, terei toda a minha liberdade!” Enquanto via na Marta o seu sorriso de conquista de liberdade e privacidade dos pais, lembrei-me da ternura do Francisco que há anos insistia em ser pai e na vontade de constituir família. Foi de todos os amigos, aqueles que sempre brilhava quando falava em crianças... E agora, tantas dificuldades.
Ao almoço não falei em nada e ficou claro que o exagero de tanto sexo logo na primeira noite iria passar a condicionar a relação entre nós. Na despedida, mesmo em frente ao portão verde da Quinta da Garça, a Marta agarrou-me pelo pescoço e sussurrou-me ao ouvido: “-Não me deixes ficar com saudades Sebastião...” Fiz um sorriso desajeitado e durante a viagem até Lisboa, registei mais de cinco mensagens da Marta enquanto pensava e delirava se este hábito e rapidez de aproximação não poderá condicionar seriamente o crescimento de um amor...
O hábito muito excessivo dos prazeres impede o nascimento do amor… Parte I
Com o sol de regresso aos nossos dias, começam a ser cada vez mais os ombros bronzeados e os rostos que irradiam sinais de saúde e lazer. São consequências da Primavera que fazem as mulheres desabrocharem essa beleza escondida pelo Inverno rigoroso. A Rita ligou-me duas vezes durante a semana e nunca demonstrou qualquer carinho especial. A princípio estranhei, e admito que fiquei algo revoltado com a situação, mas agora limito-me a aceitar uma simples amizade. Quem será que irá aguentar mais tempo este impasse?
Na sexta-feira ligou-me um amigo de longa data, o Francisco. A nossa amizade é antiga mas desde que casou, há cerca de um ano, temo-nos falado com pouca regularidade. Não fora ter ido viver para Santarém depois de casar com uma menina das lezírias, estaríamos mais tempo juntos. No entanto a amizade mantém-se. “-Há quanto tempo Sebastião! Estou a ligar-te porque vou dar um jantar cá em casa, e nem admito que faltes!” E porque iria eu faltar? O Francisco desde que se isolou em Santarém sentiu o peso dos “70 quilómetros” e a verdade é que eram raros os amigos de Lisboa que o iam visitar. Aceitei o convite e pus-me a caminho.
O dia estava radiante, de tal forma que o Francisco pediu-me para chegar mais cedo e conhecer melhor a casa. Assim que cheguei estava o Francisco recebeu-me com a alegria natural e a satisfação de se sentir de novo junto daqueles que compreendem bem a sua vontade de regressar ao mundo cosmopolita. A Cristina, sua mulher, é bastante diferente. Habituada à constante pasmaceira do campo, conseguiu exilar o Francisco das suas noitadas e das noites dormidas sabe lá aonde. Talvez por isso estava reticente como iria agora receber aqueles que são o último reduto das histórias mais afamadas do Francisco. Em menos de nada fiquei estupefacto com a simpatia dela e da irmã Marta que olhavam para mim com a diferença do rapaz da cidade habituado aos costumes mundanos.
Não fora a habitual pressa de tratar da mesa, esticar a toalha, preparar os aperitivos, prender os cães e a habitual azáfama, quase que não dava conta que a Marta cada vez mais se mostrava curiosa dos meus hábitos citadinos. A Marta vai entrar para o ano na faculdade e facilmente percebo pela conversa que os seus olhos brilham quando pensa em vir estudar para a cidade. Há pessoas que não nascem no lugar certo, e a Marta é uma delas. O seu ar doce e extremamente educado faz prever que muitos se irão embeiçar pela menina rica de Santarém que estuda agora Veterinária na capital. Enquanto vou olhando para as terras do Francisco, junto à piscina que construiu há meses, tenho aquele pensamento breve comum a todos: Que bem que se está no campo… porque não venho eu viver para aqui? Onde a vida é mais calma, não há stress, correrias, trânsito… Pensamentos comuns que se desvanecem em segundos.
“-Então que dizes da casa Sebastião?” O Francisco estava mesmo atrás de mim como a ouvir-me os pensamentos. Serviu-me um whisky e sentamo-nos os dois à beira da piscina enquanto pela janela grande da sala víamos às irmãs a tratar dos últimos preparativos. Aproveitamos para falar de tudo: negócios, do tempo, país e politica, terminando sempre nas mulheres. “-Já viste a Marta? Achei que ias gostar dela, faz o teu género…” Sorri ligeiramente porque, na minha cabeça, ainda só reina a dúvida da Rita. Mas a verdade é que durante toda a noite a Marta foi ganhando confiança e cada vez mais a via mais amável comigo do que com as outras pessoas. Mesmo com aqueles que conhecia melhor e quem tinha uma relação mais estreita, as suas intenções eram diferentes, e o sorriso não era tão sincero. Discutimos sobre música e gostos pessoais, e era extraordinário com cada vez mais tínhamos gostos em comum. A sua juventude e os poucos anos que nos separam não foram nunca sinal de imaturidade, até pelo contrário. Conhecedora e astuta, não perdia uma oportunidade para deixar bem claro a cultura que tinha adquirido nas longas tardes de leitura no Ribatejo.
Por volta das duas da manhã preparava-me para vir embora, e a Cristina insistia com o Francisco para me convencer a dormir lá. Quase todos os convidados já se tinham ido embora mas a conversa à volta da piscina estava tão boa, e a lua com tanta luz, que todos queríamos prolongar mais um pouco...
Uma das coisas que decerto mais condiciona o comportamento sexual de cada um de nós é a sua actividade. Acho mesmo impossível alguém ser minimamente interessante se insistir em arrastar-se no leito como um caracol que volta para casa. É certo que tudo deve ser gozado com calma, aproveitado e sugado até ao fim, saboreado e digerido com inteligência, mas significará isso “lentidão”?
Na semana passada a Rita ligou-me a convidar para irmos dar uma volta. É verdade que o sol dos últimos dias estava convidativo, mas a vontade era tão pouca que acabei por recusar. Ela insistia e ao mesmo tempo começava a questionar se estava a fugir a alguma coisa. Para provar que não estava, mas que sim, a vontade de sair era pouca, sugeri que passasse lá por casa de manhã. Às dez da manhã de Sábado tocou à porta… pensei que já estava estabelecido como crime acordar alguém a estas horas num fim-de-semana mas enfim. Assim que abri a porta até fiquei assustado: a Rita estava descalça e trazia nas mãos umas botas assustadoramente sujas de lama. Fiquei especado a olhar…
“-Passou-se alguma coisa ou é normal andares assim?” A Rita riu-se e entrou fechando a porta enquanto me explicava que tinha estado desde as sete na manhã numa obra que estava num estado lastimoso. Voltei para a cama e a Rita estava já a lavar as botas na casa de banho quando de repente sou surpreendido: “Importas-te que tome um banho Sebastião? Sinto-me horrível...” Não neguei, embora imediatamente me viesse à cabeça a imagem da Rita enrolada numa toalha. Não! Lembrei-me de repente das novas resoluções para esta nova estação: “não manter relações antigas sem futuro”. Confesso que estava cheio de sono e quando acordei a Rita estava em cima da cama, do lado de fora dos lençóis, enrolada na minha toalha, de olhos bem abertos a olhar para mim. “-Continuas lindo… adoro ver-te a dormir.” Resiste Sebastião… resiste!
Nem quinze minutos de conversa e já a Rita perguntava se podia entrar para dentro da cama. “-Claro que sim…” Não fui capaz, era quase eu a dizer que não e a minha boca a dizer claro que sim. Olhar para ela naquela figura, o corpo encarnado pelo calor do banho, o odor do meu gel de banho, os cabelos finos e ainda molhados… será esta a visão do Inferno na versão de Dante? Não me parece… A Rita começava a desviar a conversa para “o tempo em que andávamos” e as nas loucuras que fizemos. A dada altura comecei mesmo a achar engraçadas algumas histórias e a excitar-me pela forma como ela as contava. A Rita não é parva e sabe bem como me deixar louco. As suas mãos percorriam as próprias pernas como que demonstrando uma seda irresistível, e os seus gestos vagarosos e sensuais foram o mote para não resistir. É quase uma questão nacional que se impõe quando alguém me desafia daquela forma. Não consigo resistir e sentir-me-ia diminuído se o fizesse.
Agarrei a sua cintura enquanto ela encostava o seu nariz ao meu. Estávamos a poucos centímetros de um beijo e volta mais uma vez a pôr-se em mim a responsabilidade de avançar ou não. Fico parado, e ela olha-me como um árbitro que vai assistir a uma falta. Irei eu apanhar com um cartão amarelo? Decidi avançar e dei-lhe um beijo. Demorado, longo, tal e qual como aquele que várias vezes tive saudades. A Rita largava a toalha e deitava-se de braços abertos à espera que a possuísse. Onze da manhã e começo agora mais uma aventura sexual com alguém que jurei não voltar mais. Começo a analisar as premissas perante o facto inegável: “será condenável manter uma relação antiga se não souber se ela me irá conduzir ou não a um futuro?” Quero acreditar que esta aventura poderá conduzir a um futuro e arrisco.
A Rita mantêm-se impávida e serena na mesma posição e não lhe sinto qualquer excitação ou até mesmo algum interesse. Embora esteja escuro, a sua respiração continua inalterada. Começo a não compreender esta passividade e a situação é tão pouco estimulante que embora não consiga atingir o clímax, sinto-me incapaz de parar a meio. Pergunto-lhe se está tudo bem ao que ela me responde um tímido sim... Ao fim de alguma insistência, lá consegui a concentração necessária que exigia pensar em algo minimamente excitante, e consegui terminar condignamente.
Deitei-me para o lado e adormeci enquanto ela se enroscava em mim. Na minha cabeça só pensava como era estranho a sua atitude. Será que estava cansada? Ou seria pelo facto de ser de manhã? Não compreendi embora me tivesse marcado a sua inactividade. Será o interesse sinónimo de actividade ou simplesmente imprescindível numa relação sexual? Como não mantenho com ela qualquer relação, não quis questionar mais e adormeci.
O mais irritante no amor é que se trata do tipo de crime que exige um cúmplice...
Esta nova estação deu o mote para algumas alterações. Só o facto de começarem os dias de sol é suficiente para que as pessoas animem, se revejam na intensidade do astro poderoso, e acima de tudo larguem os trapos que insistiram em trazer-nos um Inverno rigoroso. Mas a Primavera trás consigo o melhor, com peso e medida. O Sol ocasional, o frio nocturno que nos faz aconchegar ao final do dia… haverá melhores ingredientes para que tudo funcione? Talvez o Verão… mas lá chegaremos!
Nos últimos tempos aproveitei para desenhar algumas resoluções a cumprir nesta busca desenfreada de um cúmplice para uma paixão. São ideias simples que considero que qualquer um deveria adoptar na sua vida de solteiro, ou de não casado. A primeira e talvez das mais obrigatórias é “Não manter relações antigas sem futuro”. Para quê continuar a manter amores passados, sem qualquer perspectiva de futuro? Não será o mesmo que ocupar uma casa já ocupada?
A segunda resolução passa obrigatoriamente por uma marcação cerrada a quem me parecer interessante, um investimento sólido que não pode ser deixado ao acaso. Só o simples facto de podermos deixar qualquer pessoa ler as mensagens do nosso telemóvel ou até mesmo ler os papelinhos que trazemos no bolso de dentro do casaco, é revelador da confiança que mantemos num possível amor e que inevitavelmente podemos transmitir a terceiros. Manter relações comprometedoras e buscar um amor futuro virá mais cedo ou mais tarde provocar um mau estar e uma inaplicabilidade que não compreendemos por não ser compatível com a confiança que pensamos que os outros nos devem depositar. Como poderemos esperar que “aquela” pessoa seja de confiança quando nós próprios fazemos uma marcação cerrada a várias? Apagar as mensagens do telemóvel e guardar na caixa das recordações as fotografias antigas são bons exercícios para um futuro amor.
Questiono-me se não será radical manter-me afastado daqueles amores fortuitos, das relações de vão de escada e dos beijos ocasionais que trazem tanto de doce como de amargo; e na verdade chego à conclusão que é quase o mesmo problema do que os chocolates: se por um lado sabem bem, por outro fazem um mal terrível à linha. Por isso, a palavra de ordem é evitar a todo o custo as tentações! Mesmo que mais tarde seja irresistível…
Por último, mas não menos importante, acho inadmissível ter uma relação com alguém que pura e simplesmente não se preocupa com a depilação! Isso mesmo: depilação! Fico absolutamente passado com as mulheres que não fazem depilação, seja axial, vaginal ou “pernal”. Começa a ser frequente ouvir desculpas como “não tive tempo” ou “está tão mau tempo” para descurarem num dos mais importantes cartões de visita de uma mulher. Uma mulher vê-se organizada através da sua depilação, percebe-se quando se preocupa com a sua imagem ou descura na aparência. E esta vai ser também das resoluções para esta primavera. Já que no amor é necessário um cúmplice, então que ao menos seja alguém com hábitos de beleza, higiene e intenções razoáveis...
Há vários motivos para não se amar uma pessoa e um só para dormir com ela…
A Filipa deve ser das pessoas mais oferecidas que conheço. Podem passar-se semanas que mal me fala, cruza-se comigo e finge que esta ocupada ou ao telemóvel, mas assim que vê a costa livre, é a primeira a querer festa. Ontem foi incrível! Quando tento descrever aquilo que se passou ontem só me recordo dos relatos de senhoras na TVI de cara tapada, vitimas de violação claro está. Onze da noite e já estava pronto para me ir deitar e toca à porta: “-Sebastião, já estavas a dormir? Desculpa... mas estava tão chateada em casa e queria vir um bocadinho para ao pé de ti… não te importas pois não?” Aqui começa a culpa da minha mãe! Mas porque será que eu tinha de ser tão educado e aprender que nunca se diz que não a uma senhora? “-Claro que sim, entra… já ia dormir mas assim vejo mais um pouco de televisão…” A Filipa trazia uma camisola grossa e umas calças de ganga justinhas que lhe ficam a matar e ajustam bem as suas formas torneadas e perfeitas.
Meia hora depois regada com conversa chata sobre trabalho, aulas e amigos, e a Filipa conseguia bater o record: já estava descalça, com os pés em cima do sofá, a menos de 10 cm de mim e a dizer que estava com frio. Não me fiz de rogado e aproveitei o momento. Enquanto a beijava lembrei-me da facilidade e da subtileza que as mulheres utilizam quando querem comer alguém. É incrível! Basta quererem e terem alguém… Ainda há trinta minutos atrás, ela entrava por aquela porta dizendo que se sentia sozinha, fazia-lhe falta um amor, alguém que a acompanhasse nos bons e maus momentos da vida… e tal… e tal… e agora, em menos de nada, já me enrolou. A Filipa está possuída de tal forma que parece que o mundo vai acabar amanhã. E enquanto ainda ia acariciando a sua pele suave, ela tirou um conjunto de duas camisolas ao mesmo tempo ficando só em soutien e calças. Todo este processo, moroso e complicado, pareceu-me de repente tão facilitado que quase me apeteceu desistir do jogo. Mas não… continuei para ver como iria terminar. Embora suspeitasse que este tipo de velocidade entre pessoas estranhas fosse anormal e que normalmente se resumiria a duas ou três notas de euros, hoje estou curioso para ver o final…
Puxou-me para o quarto e enquanto me arrastava, ia-me despindo as calças de tal forma, que a dada altura ficaram mesmo na entrada do quarto pois já não conseguia mais andar. Os preliminares foram rápidos e em menos de minutos já estávamos em plena acção. Ela nem se apercebeu do meu desconforto e continua a insistir e a pedir por mais enquanto eu ia cumprindo, embora completamente desconcentrado no que estava a fazer. A minha cabeça estava longe… E depois há pormenores no seu corpo que me fascinam como um cabelo comprido e sempre bem arranjado, leve e sedoso como nos anúncios comerciais. É sem dúvida um cuidado essencial que ela mantêm com o cabelo e que tomo mais atenção quando o agarro para o desviar da sua boca ocupada. E depois o risco de sentir os seus dentes ao de leve não me deixa desatento por muito tempo, temendo uma provável desgraça. Enquanto gozava de prazer, foram diversas as vezes que me lembrei das mil razões para não namorar com ela, para não pensar em algo mais sério e comprometedor, mas na verdade não consegui resistir à tentação de mais uma vez a satisfazer.
Uma hora depois de ter entrado em casa, enrolada em camisolas e pedindo alguma companhia, está agora deitada na minha cama a perguntar-me se lhe posso ir buscar um copo de água. Começo a pensar e a tentar descortinar como é possível que as coisas se tenham tornado tão banais que por vezes nem nós nos apercebamos que estamos a cair em uso… ou desuso! Nos seus olhos vejo prazer, e nem uma pinga de preocupação pela minha situação, ou satisfação. Sinto indiferença total no seu rosto feliz de leoa consolada após a copúla com o macho semental. Viro-me para o outro lado e tento adormecer, mas sempre com a dúvida na cabeça de como é possível as mulheres serem tão complicadas quando queremos namorar, e tão fáceis quando precisam de uma noite de sexo ou/e prazer.
Sinto-me um prostituto quando o contrário também é verdadeiro. Afinal foi ela que me veio procurar, mas então porque não fui capaz de me conter? E agora questiono a sua conduta mas também eu coloco a minha em causa. Resumo então o facto à facilidade com que certas mulheres são comuns e vulgares, embora não o pareçam. É que por vezes, de tão oferecidas que certas mulheres nos surgem, parece mesmo que vivem constantemente com as cuecas em baixo…