Uma das coisas que decerto mais condiciona o comportamento sexual de cada um de nós é a sua actividade. Acho mesmo impossível alguém ser minimamente interessante se insistir em arrastar-se no leito como um caracol que volta para casa. É certo que tudo deve ser gozado com calma, aproveitado e sugado até ao fim, saboreado e digerido com inteligência, mas significará isso “lentidão”?
Na semana passada a Rita ligou-me a convidar para irmos dar uma volta. É verdade que o sol dos últimos dias estava convidativo, mas a vontade era tão pouca que acabei por recusar. Ela insistia e ao mesmo tempo começava a questionar se estava a fugir a alguma coisa. Para provar que não estava, mas que sim, a vontade de sair era pouca, sugeri que passasse lá por casa de manhã. Às dez da manhã de Sábado tocou à porta… pensei que já estava estabelecido como crime acordar alguém a estas horas num fim-de-semana mas enfim. Assim que abri a porta até fiquei assustado: a Rita estava descalça e trazia nas mãos umas botas assustadoramente sujas de lama. Fiquei especado a olhar…
“-Passou-se alguma coisa ou é normal andares assim?” A Rita riu-se e entrou fechando a porta enquanto me explicava que tinha estado desde as sete na manhã numa obra que estava num estado lastimoso. Voltei para a cama e a Rita estava já a lavar as botas na casa de banho quando de repente sou surpreendido: “Importas-te que tome um banho Sebastião? Sinto-me horrível...” Não neguei, embora imediatamente me viesse à cabeça a imagem da Rita enrolada numa toalha. Não! Lembrei-me de repente das novas resoluções para esta nova estação: “não manter relações antigas sem futuro”. Confesso que estava cheio de sono e quando acordei a Rita estava em cima da cama, do lado de fora dos lençóis, enrolada na minha toalha, de olhos bem abertos a olhar para mim. “-Continuas lindo… adoro ver-te a dormir.” Resiste Sebastião… resiste!
Nem quinze minutos de conversa e já a Rita perguntava se podia entrar para dentro da cama. “-Claro que sim…” Não fui capaz, era quase eu a dizer que não e a minha boca a dizer claro que sim. Olhar para ela naquela figura, o corpo encarnado pelo calor do banho, o odor do meu gel de banho, os cabelos finos e ainda molhados… será esta a visão do Inferno na versão de Dante? Não me parece… A Rita começava a desviar a conversa para “o tempo em que andávamos” e as nas loucuras que fizemos. A dada altura comecei mesmo a achar engraçadas algumas histórias e a excitar-me pela forma como ela as contava. A Rita não é parva e sabe bem como me deixar louco. As suas mãos percorriam as próprias pernas como que demonstrando uma seda irresistível, e os seus gestos vagarosos e sensuais foram o mote para não resistir. É quase uma questão nacional que se impõe quando alguém me desafia daquela forma. Não consigo resistir e sentir-me-ia diminuído se o fizesse.
Agarrei a sua cintura enquanto ela encostava o seu nariz ao meu. Estávamos a poucos centímetros de um beijo e volta mais uma vez a pôr-se em mim a responsabilidade de avançar ou não. Fico parado, e ela olha-me como um árbitro que vai assistir a uma falta. Irei eu apanhar com um cartão amarelo? Decidi avançar e dei-lhe um beijo. Demorado, longo, tal e qual como aquele que várias vezes tive saudades. A Rita largava a toalha e deitava-se de braços abertos à espera que a possuísse. Onze da manhã e começo agora mais uma aventura sexual com alguém que jurei não voltar mais. Começo a analisar as premissas perante o facto inegável: “será condenável manter uma relação antiga se não souber se ela me irá conduzir ou não a um futuro?” Quero acreditar que esta aventura poderá conduzir a um futuro e arrisco.
A Rita mantêm-se impávida e serena na mesma posição e não lhe sinto qualquer excitação ou até mesmo algum interesse. Embora esteja escuro, a sua respiração continua inalterada. Começo a não compreender esta passividade e a situação é tão pouco estimulante que embora não consiga atingir o clímax, sinto-me incapaz de parar a meio. Pergunto-lhe se está tudo bem ao que ela me responde um tímido sim... Ao fim de alguma insistência, lá consegui a concentração necessária que exigia pensar em algo minimamente excitante, e consegui terminar condignamente.
Deitei-me para o lado e adormeci enquanto ela se enroscava em mim. Na minha cabeça só pensava como era estranho a sua atitude. Será que estava cansada? Ou seria pelo facto de ser de manhã? Não compreendi embora me tivesse marcado a sua inactividade. Será o interesse sinónimo de actividade ou simplesmente imprescindível numa relação sexual? Como não mantenho com ela qualquer relação, não quis questionar mais e adormeci.