O hábito muito excessivo dos prazeres impede o nascimento do amor… Parte II
“-Fica Sebastião, amanhã podíamos dar uma volta pela Garça e mostrava-te o meu cavalo... Aproveitávamos e almoçávamos no Alto da Serra. Que dizes Francisco?” Confesso que o meu interesse por cavalos começa no circo e termina na feira popular, no entanto o convite pareceu-me irresistível e o Francisco assim que ouviu falar no Alto da Serra, começou a salivar e a recordar as entradas e o maravilhoso cabrito!
Era impossível recusar tamanha delicadeza e sobretudo a forma como se preocupavam em bem receber. Afinal de contas não tinha nada para fazer em Lisboa, e de vez em quando, até sabe bem passar mais um dia no campo. Confesso que a Marta me estava cada vez mais a conquistar: a sua delicadeza, a voz doce e a alegria que demonstrava na minha companhia, foram motivos mais que suficientes para aceitar.
Reparei no olhar do Francisco que ficou contente por ter aceite, e deliberadamente saiu da sala deixando a lareira acesa e deixando-me sozinho com a Marta. A conversa já ia longa e nem os meus bocejos fizeram demovê-la ao sono. Ela insistia com palavras doces em perguntas sobre namoradas e afins, até que lhe fiz a derradeira pergunta: “-Estás muito interessada na minha vida sentimental… Isso é só curiosidade ou uma parte de interesse?” A Marta não me pareceu minimamente intimidada e responde num ápice: “-Quem disse que é só uma parte?” Para mim estava tudo dito. Quando dei por mim estava no corredor a conspirar como iríamos fazer para dormirmos no mesmo quarto sem o Francisco e a Cristina darem por isso. O velho truque das almofadas por baixo dos lençóis foi a solução escolhida por ela (tão inocente...) e assim que entrámos no meu quarto colocou o despertador para as sete da manhã, antes de alguém acordar.
Enrolados em beijos e ternuras animais, acabamos por fazer amor num à vontade tão grande que até eu me espantei com a facilidade da situação. O seu corpo tremia de prazer e embora não fôssemos muito além do trivial, foi curioso como qualquer falso pudicismo foi deixado literalmente à margem.
De manhã acordei e o sinal que registei da sua passagem pelo meu quarto era o cheiro da sua pele na almofada. Assim que abri os olhos, sorri para o tecto como que feliz pela inocência da situação. Levantei-me rapidamente e fui-me arranjar. A casa de banho é a mesma para os dois quartos, o meu e o da Marta, e assim que abro a porta vejo-a enrolada a secar o cabelo. Fiquei sem saber o que fazer, mas desde logo ela colocou-me bastante à vontade com um bom dia sorridente e um beijo na face. Perguntei-lhe se eles já tinham acordado. “-A Cristina disse para irmos os dois dar uma volta na Garça que eles vão ficar a dormir e depois vão ter connosco ao restaurante.” Pareceu-me justo para todos e este foi o momento em que aproveitei para agarrá-la e levá-la para o duche comigo.
“-Estás doido Sebastião? E se alguém entra?” Tranquei a porta e desfrutei o momento. O seu corpo denuncia bem a pureza da tenra idade: o seu peito bem torneado e a pele lisa e suave, foram como que afrodisíacos para aumentar o meu apetite matinal. Ela entregou-se mais uma vez como uma naturalidade abismal e foi impressionante vê-la a procurar os melhores ângulos para ver no espelho o reflexo dos nossos corpos.
A Quinta da Garça é pertença dos pais da Cristina e da Marta, e pese embora as várias criações e cultivos que desenvolvem nos mais de 100 hectares, há um espaço reservado para cada uma das filhas. Na zona norte, o Francisco construiu uma casa pequena com piscina que lhe confere a privacidade que precisava. Mais à frente estava em construção uma outra casa.
“-É a tua?” perguntei-lhe eu.
“-Não, é para eles. Agora com os miúdos a outra fica pequena para todos…”
“-O Francisco vai ser pai?”
“-Ainda não sabem, a Cristina já tentou duas vezes, mas sem sucesso... talvez por isso ainda não tenham contado a ninguém antes de terem todas as certezas. Mas depois desta estar pronta, a outra casa ficará para mim... Ai sim, terei toda a minha liberdade!” Enquanto via na Marta o seu sorriso de conquista de liberdade e privacidade dos pais, lembrei-me da ternura do Francisco que há anos insistia em ser pai e na vontade de constituir família. Foi de todos os amigos, aqueles que sempre brilhava quando falava em crianças... E agora, tantas dificuldades.
Ao almoço não falei em nada e ficou claro que o exagero de tanto sexo logo na primeira noite iria passar a condicionar a relação entre nós. Na despedida, mesmo em frente ao portão verde da Quinta da Garça, a Marta agarrou-me pelo pescoço e sussurrou-me ao ouvido: “-Não me deixes ficar com saudades Sebastião...” Fiz um sorriso desajeitado e durante a viagem até Lisboa, registei mais de cinco mensagens da Marta enquanto pensava e delirava se este hábito e rapidez de aproximação não poderá condicionar seriamente o crescimento de um amor...