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sábado, janeiro 24, 2004

As paixões cegam. O verdadeiro amor torna-nos lúcidos...

Detesto as mulheres... Não detesto mulheres, mas detesto a forma como elas regra geral se comportam. A mulher tem o dom de conseguir tresloucar a mente alheia e de nos fazer pensar no existencialismo mais profundo e, ao mesmo tempo, enlouquecer-nos de tanto inventarmos. Dou por mim na rua apaixonado por rostos, por formas, por tudo e por nada! Passa uma mulher e olho para o peito, para as pernas e para o rabo, analiso tudo e não perco de vista o corpo antes mesmo de olhar para a cara. Penso que será um impulso automático que nem Freud conseguiu descobrir. Continuo com instintos carnais quando preciso urgentemente de algo que me condicione a alma, o coração. Percorro a agenda do meu telemóvel e percebo que faltam lá pessoas e números, aqueles já estão “gastos”. A Ana, a Beatriz a Carolina, a Diana e continuo a percorrer o alfabeto sem conseguir descobrir alguém que seja suficientemente especial para uma conquista.

Optei por não ir sair, por não ligar a ninguém, por não mandar mensagens, nem mesmo atender o telefone. Optei por resolver os quebra-cabeças como eles devem ser resolvidos: papel e lápis. Fui a correr ao quarto e trouxe uma folha A4 em branco e um lápis, daqueles amarelos número 2, e sentei-me na poltrona antiga. É um exercício que faço regularmente e que como irão ver trás os seus frutos. Comecei por escrever todos os nomes das mulheres com quem me relacionei nos últimos tempos ou/e que me têem abordado os pensamentos. Depois de elaborada a lista, confesso que não era muito vasta, comecei por riscar aqueles nomes que me arrependo definitivamente. É normal dormir de tempos a tempos com amigas que de nada têm de interessante mas que, pelo factor surpresa, acabam por se tornar cobaias da curiosidade. Acontece com todos os homens: todos pensam... alguns aproveitam, outros não... Há quem goste de morrer na ignorância, eu adoro conhecer novas comidas e novos ambientes.
Depois de anulados os nomes relativos às experimentações, seleccionei os nomes com quem já tive relações sexuais e que tenha valido a pena. Por mais estranho que pareça tudo se manteve na mesma, o lápis nem mexeu. Depois quis escolher as que estão descomprometidas e ficaram cinco. Cada vez mais pequena esta lista. Das cinco pensei naquela mulher que não está comigo à mais tempo e ficou um nome. Olhei várias vezes para esse nome, reescrevi-o várias vezes com a ponta grossa do lápis até ficar imperceptível. Estava a pensar como não tinha visto semelhante coisa... Eu sonho com a Luísa, penso na Catarina, beijo a Mariana e não vejo nada.

Levantei-me, peguei nas chaves de casa e sai porta fora. Bati na porta ao lado e a Filipa abriu-me a porta: “-Olá! Estava com saudades tuas! Posso entrar?” Ela nem queria acreditar... Eu moro ao lado de casa dela há uns 5/6 anos e deve ser a quinta ou sexta vez que entrei naquela casa sem ser convidado para jantar ou dormir com ela. E se calhar hoje também não será diferente mas, pelo menos a iniciativa foi minha. A Filipa correu para o quarto e quando voltou o cabelo estava arranjado e acho que a cor da blusa também era diferente de quando abriu a porta. Perguntou-me se precisava de alguma coisa, ao que respondi que queria simplesmente conversar. Saudades disse eu... Ela estava a cozinhar um bolo qualquer porque amanhã tem um almoço em casa dos pais e quer levar uma sobremesa.

Sentei-me no único banco da cozinha e a dada altura senti-me desconfortável e decidi agarrá-la por trás. Dei-lhe um beijo no pescoço e ao ouvido disse-lhe qualquer coisa mais ordinária que a fez sorrir. A Filipa gosta de trocar provocações comigo e hoje não foi excepção: “-Menino Sebastião, eu não sou o Goucha! Sentas-te aí até eu acabar o bolo senão daqui a pouco vai tudo para rissóis!” Devia ser bonito: rissóis de chocolate... Estava prisioneiro no banco de cozinha enquanto há minha frente a única coisa que via eram as suas nádegas bem torneadas numas calças pretas que combinavam com o avental cinzento. Hoje não quero pensar em amores nem romances, se estou na cozinha quero comer! Assim que terminou o bolo voltei à carga e, ao agarrá-la agora com mais vontade, ela diz-me em tom de gozo: “-Sexo na cozinha? A Filipa aprova, mas será que Vacondeus aceita?” Desatei-me a rir e a piada acabou por ser um tónico para a beijar com ainda mais vontade! As minhas mãos estavam decididas e assim que vou para tirar o avental ela adianta-se: “Hoje não pode ser…” Não pode ser? Mas que raio de conversa é esta? Olhei para ela com cara de caso e ela continua: “-Daqui a pouco está a chegar o meu irmão, ele vem dormir cá a casa hoje...” Ora bolas, agora um puto de 12 anos é que me vai estragar a noite! Vim para casa e, enquanto me martirizava pela minha incessante estupidez em insistir com alguém, acabei por perceber que o melhor mesmo era ir dormir. Sentado na cama a ver um qualquer filme aborígene na RTP pensava:“Se é verdade que as paixões cegam, então quando chegará o meu verdadeiro amor para tudo se tornar lúcido? Que raio, detesto as mulheres...”


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© Por SEX IN LISBON às 02:06

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