Amar é encontrar na felicidade do outro a própria felicidade…
Ontem à tarde a Rita ligou-me a convidar para ir jantar a casa dela pois o Pai estava de viagem e a mãe tinha ido jantar a casa de uns tios. Já não posso ouvir falar em viagens, estou em êxtase para viajar e não sei para onde nem com quem. Queria fazê-lo sem tempo nem destino… Na ideia do típico viajante que busca em cada esquina uma imagem para recordar mais tarde. Tenho ânsia e ganância de conhecer mais mundo, de voltar a sentir o desconforto confortante da “Boeing” e o cheiro inconfundível das terras que não são lusas.
Hoje quero tudo menos agarrar no carro e andar perdido na Lapa à procura da mansão da Rita. E depois está lá a empregada que me fuzila com uns olhos de coruja. Aposto que no final do dia lê o relatório pormenorizado aos patrões, apontado num bloco Castelo de linhas, com tudo sobre a vida da menina da Rita: “Ontem às 20 horas e 12 minutos chegou o menino Sebastião que disse boa noite, sorriu convencido e subiu sorrateiramente para o quarto da menina…” Não… hoje não estou para esses filmes. Também me lembrei de mais uma vez insistir com a Filipa e ter uma simples noite de sexo. Não… também não. Abortei todas as ideias frustradas e convidei a Rita para vir jantar e passar a noite cá em casa. Dá menos trabalho e sempre durmo acompanhado e sem correr riscos.
A Rita chegou e trazia uma saia que lhe confere o mais lindo rabinho do mundo. Devia existir um prémio para estas obras de arte! Serei eu esse prémio? Trazia consigo uma tarte lá de casa que fez as minhas delícias (a coruja sabe cozinhar...). Adoro frango, detesto legumes, adoro frango com legumes. A Rita estava querida mas o dia chuvoso e o frio arrebatador deixaram-na em baixo. Perguntei-lhe três vezes se estava cansada mas ela (esperta…) dizia que não garantindo desde logo mais uma noite de sexo. Fomos cedo para a cama e estivemos a ver um DVD qualquer que a Sofia me emprestou. Mal o filme começou percebi que era mais um daqueles filmes piegas passado em Nova Iorque. Ela estava junto a mim e fiquei excitado ao sentir o seu peito duro no meu pijama. Ao mesmo tempo senti-me indeciso da minha posição. Não gostei da conversa ao jantar, a Rita começa a revelar alguns defeitos que dificilmente vou aceitando. São ideologias em que não me revejo, uma forma hostil de enfrentar a diferença. Não digo nada e até sorrio, justamente numa altura em que só a Rita se afirma como namorada, mas algumas posições incomodam a minha mente mais tolerante. E não a vejo feliz, não a sinto como tal… Agarrei-a e enrolamo-nos debaixo dos lençóis. Não senti aquele clic de excitação, parecíamos marido e mulher deitados na cama depois de um dia estafante de trabalho num engano mútuo: “Cansada eu? Não… vamos fazer amor...” Mas o sexo é como o algodão: não engana... Quando tudo estava perfeito, mesmo sem muita agitação e excitação, mas com alguns orgasmos atingidos pela Rita, ela decidiu parar. Comecei a beijá-la quando sou interrompido: “Desculpa Sebastião mas estou cansadíssima… não te importas que fique para a próxima?” Nem queria acreditar! Fiquei uma boa meia hora sem dizer nada enquanto o filme continuava a fazer barulho de fundo. Estava excitado e não sabia o que fazer a todo aquele sémen que estava a centímetros do ponto de fusão. Sorri, disse umas palavras simpáticas e mordi duas vezes o lábio inferior. Estou incerto da minha postura mas convencido que jamais faria o mesmo a alguém.
Ignorei o filme que insistia num drama "hollywoodesco" e compreendi que talvez seja uma virtude (amarga…) saber levar uma tampa. Não é comum (e é bom que não seja!) mas às vezes necessário. O homem adquire naqueles minutos de prazer o seu poder máximo sobre todos os outros, atinge o record de adrenalina e infelizmente eu não conseguia estar à altura de ter a humildade de compreender os limites dos outros... e talvez isso fosse para mim mais indignante que o facto de não ter concluído. E adormeci… De madrugada a Rita acorda-me e pede-me para que a leve a casa para que a mãe não desconfiasse.
Fui levá-la e talvez perdido por uma qualquer nostalgia nocturno-matinal, decidi dar uma volta de carro pelo centro da cidade ao som de Jamiroquai. Fiquei impressionado com as luzes da cidade, Lisboa está linda! Parece um presépio sofisticado… uma qualquer cidade do mundo carregada de símbolos consumistas que nos alegram os olhos e estragam de mimos. Ao passar pelo Saldanha recordei os tempos que tive ao lado da Catarina, das mágoas que ficaram e entre uma qualquer música mais lamechas cheguei mesmo a perder uma lágrima... O único fluído que perdi esta noite, sem esforço...
De repente passou por mim um carro e em segundos olhei para a matrícula. É normal, faço-o sempre que vejo um carro de alguém que conheço e foi este o caso. Era um carro igual ao da Luísa. Uma amiga que conheço há uns tempos e do que conheço gosto imenso. Um estilo de vida e uma mente inteligente, viciada em pequenas coisas em que me revejo e um coração repleto de muitas surpresas que me deixaram enamorado. Não fiquei apaixonado, nem tão pouco embeiçado… fiquei torturado pela novidade e por sonhos que vou realizando enquanto vou guiando e chego ao Largo do Rato. A Luísa é especial por ser (sem motivo aparente) inalcançável... Aliás comigo tem sido sempre assim, dá luta! Desço ao Príncipe Real e decidi passar perto do People. Estava tudo fechado e prometi lá ir hoje mesmo na busca incessante de me divertir. Fui para casa e na minha cama, já sozinho e cansado, percebo que procuro a minha felicidade junto de alguém que seja e me faça feliz e descubro que estou confuso e não sei a quem amar…