Os meus amigos acusam-me de repetir constantemente os mesmos erros com as mulheres. Admito que me venho a repetir sempre na mesma lengalenga que consiste em sentir-me acompanhado e ir dormindo aqui e ali, com esta ou aquela. Seja na cama ou no cinema, num qualquer espectáculo ou num fim-de-semana prolongado quem não gostaria de ter sempre companhia? E compreenda-se que me refiro a compromisso esporádico, tal e qual contrato a termo, sem deveres nem obrigações explícitos, os do momento e mais alguns de charme e boa educação. Talvez por isso seja estranho a tantas mentes o facto de ainda não me ter ainda envolvido a sério com alguém, mas pergunto-me eu: “Para quê?” Recordo-me do anúncio do tal chocolate que dizia “para quê ter algodão quando se pode ter seda?” Não será porventura o algodão o tal casamento, ou o compromisso sério de namoro tendo em vista uma relação a dois, e a seda a tal lengalenga, mas livre e solta de preconceitos, de compromissos, mas cheia de animação sempre diferente e calorosa?
A Filipa é sem dúvida aquela que melhor personaliza este tipo de relação, e se me propusessem neste momento manter-me assim, decerto que não hesitaria. Eventualmente coloco em causa esta posição quando me apaixono por alguém, invariavelmente não tem dado certo, mas há sempre esperança. O caso da Madalena é esse mesmo, embora não saiba como reagir e como me declarar sem colocar em risco a tal máscara que venho mantendo. Outro caso semelhante é o da Rita, que embora sempre apaixonada e certinha no início da relação, não se importa agora da tal “amizade colorida” que não lhe dá garantias de nada, mas sempre lhe ocupa momentos de entretenimento e carinho. Cada vez mais vou reunindo adeptas da modalidade e não querendo constituir uma associação, a verdade é que as sinto mais felizes e no eterno jogo do segredo. Aliás esse é sem dúvida o mais complicado de jogar, obriga a tentar manter “no ar” várias pessoas ao mesmo tempo sem que nenhuma delas se aperceba da outra. Não é que seja importante tal facto, mas é mais interessante e sinal vivo de boa organização.
Esta situação não é estranha a mulheres e homens casados, elas mais do que eles. As mulheres são facilmente desviadas do casamento assim que este deixa de ter o “glamour” do tule e as luzes das velas, e fazem-no em detrimento do segredo. Nada melhor para uma mulher do que lhe confiarmos uma tarefa secreta, mesmo que sem interesse, irá mostrar-se sempre apta para a desempenhar. E um amante é exactamente isso. Quantas não vemos com os números de telefone da escola dos filhos no telemóvel para avisarem à última da hora os atrasos naturais de uma tarde bem passada? Ou das desculpas inventadas à ultima da hora para uma viagem relâmpago ao norte do pais em negócios? Ou o mais usual, as conversas de horas com a super amiga contando-lhe a tal paixão sob o intuito de lhe pedir cobertura para o acontecimento? E no fim de contas confessam-se sem qualquer pudor: “-Não gosto dele, não durmo com ele, não é por causa do outro, mas este é que já não dá mais…” E a minha dúvida mantém-se: “Afinal o que é que não dá? Será o marido igual a todos os outros, ou manter-se ligada a um casamento num século que nos proporciona tanto e aproveitamos tão pouco?”
Não me parece correcto admitir que esta é a regra geral, mas não é exagerado dizer que é o espelho de uma fatia grande da sociedade. Dizia-me no outro dia uma amiga que “é triste ver tantos homens na praia, lindos de morrer a olhar para nós, e termos de nos manter agarradas a alguém que um dia já teve 70 quilos e jogava squash, mas que agora ostenta uma bonita barriga maior do que uma gravidez!" Os símbolos de fidelidade do casamento estão hoje a ser questionados pela felicidade de cada um, e se por lado devemos a todos e a nós próprios aqueles sinais e compromissos católicos, por outro consideramos sempre em primeiro lugar a nossa felicidade. Afinal o que reina primeiro? A tal busca desenfreada em busca de um amor, da cara-metade, da chave certa, ou de alguém que pura e simplesmente nos faça feliz sem assumir qualquer compromisso?
São talvez estas as dúvidas que me vou colocando diariamente e que deixa a todos perplexos pela confusão de sentimentos, a uns mais do que a outros, mas sem dúvida que na análise que vou fazendo, a mim e aos outros, descubro segredos incomensuráveis. Das características que mais facilmente vou reconhecendo nas mulheres é a sua subtileza e o carácter com que conseguem entrar numa casa sem abrir ou fechar uma porta. Aquela dualidade de não estar comprometida mas não estar livre, ou de não estar apaixonada mas também não estar desinteressada, ou até mesmo o eterno busílis de nunca dizer sim ou não… o talvez é a pedra basilar do vocabulário feminino. E esta é provavelmente umas das maiores características da Madalena...