Quem pensa em sexo o dia inteiro é muito saudável...
Não sei quem disse esta frase mas a cada dia que passa mais tenho as minhas dúvidas. Não sobre praticar, mas em pensar nele… Será assim uma daquelas verdades inquestionáveis? Hoje fui ter com a Rita para aquilo a que chamei “uma conversa”. É horrível quando ligamos para alguém e dizemos: “temos de conversar…” ou “preciso de conversar contigo…” É quase como o médico que se vira para um doente e diz: “-tenho uma má notícia para lhe dar…” Dá um nó no estômago que não augura nada de bom. Mas era inevitável e logo a seguir ao almoço fui ter com a Rita a Belém. Não sei porquê mas combinámos junto à estação fluvial e quando lá cheguei parece que o tempo meteorológico tinha preparado a luz ideal para uma cena de filme dramático. Até as nuvens cinzentas estavam perfeitas! Manoel de Oliveira não teria conseguido melhor... Olhei e vi dois pescadores a conversarem junto ao rio. Desde miúdo que tenho uma paixão pela pesca (nunca toquei numa cana ou num anzol…) o que me fez aproximar para ouvir a conversa e assistir à pescaria.
A Rita está atrasada… é bem feito! Armei-me em parvo, agora apanho uma seca! O pescador gabava-se das suas actividades, uma cena ímpar a que nenhuma senhora poderá alguma vez assistir. Utilizava uma linguagem bastante térrea para descrever as suas longas e antigas actividades sexuais… foi então que me lembrei do pipi. Imaginei-me daqui a muitos anos a falar com um amigo e a contar-lhe as minhas aventuras… havia de ser lindo! Mas a verdade é que aqueles velhos contam histórias de mil mulheres e, quando comprovam com fotografias da guerra ainda a preto e branco no velhinho papel mate, percebo que afinal até tinham pinta quando eram novos… então o que os distingue de mim ou de todos nós? Será a linguagem “à pipi”? O facto de já estar velho e provavelmente casado com uma senhora gorda que trabalha na escola c+s como “assistente de acção escolar”? Ou será o facto de ter sido uma brasa e estar agora ao abandono? Estas dúvidas irritam-me e já por várias vezes deixam-me sem resposta, fico com medo de envelhecer e de acabar como eles a gabar-me de quando era novo.
A Rita chegou… finalmente! Nunca fiquei tão contente por parar de esperar (e de pensar!) e tão receoso da conversa que aí vem. Mas não pode ser e é hoje mesmo que vou abrir o jogo. Entrei para o carro dela e automaticamente senti o seu perfume que me deixa doido. Um beijinho na cara e a Rita muda de expressão: “- Então Sebastião, querias falar comigo… aqui estou.” Parecia uma cena gaulesa, Astérix a enfrentar os romanos! Comecei por explicar-lhe que nos últimos tempos tenho andado cansado (tenho?) e que pensei em tudo o que se estava a passar e que tinha medo de me estar a envolver. No rádio tocava mais uma vez o CD da Norah Jones que o pai lhe trouxe de Londres. A primeira vez que estivemos juntos foi ao som de “Come Away With Me”. Estava a pensar em pedir-lhe para falar com o Pai e pedir o novo CD mas depois desta conversa acho que ela me mandava na bagagem diplomática com bilhete só de ida! E não é esse o tipo de viagens que eu estou a precisar… Tentei explicar-lhe que gosto muito dela e que não a quero magoar… e que não me quero magoar! "-Talvez seja altura de parar… e dar um tempo…" Agora é que estraguei tudo. Passo anos a lutar contra a expressão “dar um tempo” e acabei por utilizá-la para fugir com o rabo à seringa. Quem dá tempo são os relógios e do lado de quem ouve esta expressão só pensa no tempo que nunca mais vai passar. É quase a mesma coisa quando a cancela se fecha à nossa frente para o comboio passar… mas que nunca sabemos quando vai abrir, se é que vai abrir.
A Rita foi estupidamente fria e nem deu luta o que me deixou terrivelmente desiludido. É porventura uma das formas mais difíceis de jogar, mas também das mais fáceis para me perder. Deixei-a ir e embora o coração esteja apertado por ver alguém partir sinto-me livre como um passarinho. Lembrei-me mais uma vez da Catarina que fez o mesmo comigo sem dó nem piedade. Foi diferente pensei eu… mas não foi. Mas haverá forma simpática de acabar um namoro? Enquanto percorro a estrada junto ao rio penso no que fiz. Que asneira! Não dava só para abrandar as coisas? Tinhas mesmo de acabar? Sim.. aquilo foi acabar Sebastião! A miúda só não chorou porque é muito educada e a esta hora deve estar a ligar a uma amiga especial a chamar-te todos os nomes do mundo! E acabaste porquê? Tens melhor? Preciso mesmo de viajar…
Recordei-me dos fins de semana que passei com a Rita deitado no sofá a ver dvd’s, do fim do ano no Alentejo, daquela tarde na casa dela no Estoril e até das minhas palavras aquando do post em 8 de Dezembro: (…) a Rita Guimarães é a miúda mais gira e mais simples que conheci, culta, interessada, sem vícios nem manias, e sobretudo sem aquelas taras que hoje em dia a maior parte das miúdas têm.(…) E a verdade é que nada mudou! Estou a auto flagelar-me... Liguei para a Filipa. É a única pessoa que me pode fazer sentir melhor hoje, mas foi para gravador. Duas vezes! É incrível como basta estarmos sem sexo para pensarmos logo nele...