O assustador e jamais inesquecível "sex in Val d'Isére"...
A neve carrega consigo dos maiores mistérios da natureza. Acho que se deve ao frio ou quem sabe ao branco puro que dá vontade de saltar de cabeça! A verdade é que estes dias foram um misto de desporto, lazer e muito sono! A Rita ficou comigo num quarto (em camas separadas...) e embora o clima estivesse sempre em ponto de rebuçado com constantes ameaças e provocações, a verdade é que a intensidade do “sex in vald’isére” foi tão grande que acabámos por fazer amor todas as noites… sem nunca o fazer! O apartamento era mesmo perto das pistas e tinha dois quartos separados por uma sala minúscula. No outro quarto ficou o casal de namorados de fresco e toda a noite era ouvi-los a discutir por tudo e por nada. Quando chegávamos ao apartamento, eu e a Rita arranjávamo-nos para dormir e acabávamos sempre a rir até às tantas da manhã. Qual casal de namorados imberbes, era ouvi-los a discutir porque ele recebeu uma mensagem escrita de fulana e ela quer ler, ou então porque ela ela esteve mais de sete minutos a falar com um ex-namorado. O rapaz tinha um ar parvo, e ela uma cara de sonsa que prometia algo mais. Ambos os factos vieram a confirmar-se mais tarde… Enquanto eles discutiam por causa das mensagens escritas, a Rita fazia-me um olhar sorrateiro com curiosidade pelas mensagens que também eu não parava de receber.
Assim que passei a fronteira de Badajoz recebi a primeira mensagem da Catarina: “Olá querido! Quero desejar-te uma boa viagem e vai com cuidado, mtos beijinhos cheios de muitas saudades!” Não liguei, afinal é perfeitamente normal os amigos desejarem uma boa viagem quando alguém vai para fora… mas a Catarina é diferente. Assim que cheguei ao hotel e me preparava para dormir começou uma enxurrada de mensagens que só terminou mais tarde com uma decisão drástica. A princípio as mensagens eram normais, mas ao segundo dia, e sete mensagens depois (todas sem resposta da minha parte), percebi que algo se passava e que era necessário compreender. Mandei-lhe uma mensagem a perguntar qual a razão desta inundação de mensagens ao que ela me responde: “Estou com saudades tuas! Se tivesses aqui… ai, ai…” Recordo-me que estava a meio de um jantar e o meu sorriso não foi indiferente aos olhos da Rita. Se por um lado tinha ficado uma pequena questão por resolver desde a última vez que tínhamos estado juntos, por outro lado emanava no meu coração uma vontade de estar com ela. A Catarina continuará a ser sempre a ex-namorada, com tudo o que isso acarreta...
A Rita evitava o olhar cada vez que o telefone dava o som agudo de mais uma mensagem recebida, e eu normalmente respeitava não indo ler de imediato, aproveitando para o fazer quando estivesse sozinho.
Mas todas as noites o teatro repetia-se, o jovem casal retirava-se ao quarto em amuos e arrufos, que continuavam à porta fechada, mas suficientemente alto para nós ouvirmos. A Rita acabava por se rir do que ouvia e fazia uns olhares estranhos quando se ouvia algo que porventura também se pudesse associar a mim: "-Tu és igual Sebastião!" Eu fazia-me de desinteressado e mantinha o sorriso, ainda da risada anterior. Mas todas as noites assistíamos a algo de verdadeiramente assustador! Os namorados de fresco, logo após a discussão, faziam uma pausa de três minutos (que julgo serem beijos) dando lugar logo de seguida a uma noite intensa de sexo. Posso assegurar-vos que por mais vontade que nos desse de rir, porque ouvíamos com uma clareza absurda, chegavam a ser assustadores os berros de prazer que caracterizaram o “sex in vald’isére”. Ela gritava como eu nunca tinha ouvido na minha vida… noites e noites a fio, em sinal de desespero e de angústia. A carnificina durava perto de hora e meia e jamais consegui compreender se havia ali algo de prazer. Num dos últimos dias, perto das três da manhã, e a Rita já irritada porque não conseguia dormir com aquele alvoroço inexplicável, tive a tentação de ir espreitar… Mas ela fez questão de marcar a sua posição: “Livra-te de dizeres alguma coisa ou de lá ires ver! Ainda aprendias aquela técnica mortífera e depois…” O depois ela nunca chegou a explicar, embora eu tenha insistido, mas decerto que se referia a algo que mais tarde se possa a vir passar entre nós.
No último dia de neve acordei às oito da manhã, e a Rita fez questão de ficar a dormir até mais tarde. Levantei-me e fui esquiar sozinho enquanto ela e o duo “suffering sex” dormiam depois de mais uma noite demais agitada! Cheguei ao pico de uma montanha e, enquanto tirava umas fotografias à paisagem deslumbrante, recebi a última mensagem da Catarina: “Bom dia meu amor, n tens saudades minhas? Qd chegares liga-me, estou a morrer de saudades tuas! Não sejas mauzinho... Mts bjs.” Descia uma qualquer pista e pensava na forma de como resolver este assunto. A Catarina estava afastada do meu ciclo de próximas relações depois daquela discussão, mas agora que a Rita se mostra uma simples amiga, não haverá lugar para um regresso ao passado? Não sei como resolver este aperto e reajo desligando o telemóvel e deixando para a chegada a Lisboa a (in)decisão possível. Ate lá fico a pensar: Não seria mais fácil resolvê-lo à boa maneira de “sex in vald'isére”? Discutir e depois aproveitar? Mesmo que aos gritos?