O amor dá espírito às mulheres e retira-o aos homens…
Quando chega o fim-de-semana, é como o fim de uma longa caminhada pelo deserto: se por um lado chegamos ao fim, por outro estamos cansados... É estranho e a Marta, apercebendo-se da situação, faz tudo para animar e deixar-me à vontade. Este fim-de-semana fez questão de me convidar para dormir lá em Santarém. Aceitei mas denotei algum mau estar nos comentários do Francisco e da Cristina. Percebi que embora gostem da minha presença, consideram um pouco cedo e talvez um pouco imaturo o comportamento da Marta na gestão desta relação. A sua vivacidade e excentricidade natural podem comprometer alguma falta de responsabilidade e bom-senso no andamento de um namoro. Cabe-me a mim manter esse espírito de tranquilidade e maturidade enquanto a única coisa que penso é em atirar-me nos braços dela. Mas agora já não são tão fáceis as escapatórias para dormirmos juntos, e pese embora durante a semana ela passar o tempo todo a estudar, começámos a improvisar em barracões abandonados pela Garça.
Das melhores experiências que tive ultimamente foi quando a Marta me levou às cocheiras para ver um cavalo especial. Era já tarde, e a minha vontade de me estender numa cama era tão grande que, não fora a sua insistência, teria mesmo recusado. O meu carro começa a fazer aventuras cada vez maiores nos terrenos acidentados da Garça e, mantendo-se estas actividades radicais, temo pela sua sobrevivência. Assim que chegámos, a Marta saiu a correr dirigindo-se a um portão de ferro que abriu sem fazer qualquer barulho. Era importante não acordar ninguém na casa principal que tem uma vista privilegiada sobre as cavalariças. Assim que entrei, a Marta agarrou-me pela cintura e puxou-me para uma box que, tal como todas as outras, estavam vazias. Os cavalos tinham sido mudados para umas novas cocheiras perto da casa do Francisco e este era definitivamente o espaço escolhido para passarmos a noite.
A Marta acendeu uma vela, hiper-protegida por causa do feno que se encontrava na sala ao lado, e assim que me apanha deitado numa manta aos quadrados atira-se à minha camisa desapertando-a com a ferocidade que gosto de ver nas mulheres. Uma mulher que demonstra a sua fome é tão gratificante como fazer um “quatro” no totoloto, não é tudo, mas é grande parte. E sabê-lo fazer sem cair em asneira, é ainda mais difícil. No ambiente romântico que de repente se instalou, foi impressionante a reviravolta…
“-Mas desconfias de mim?” disse ela indignada.
“-Mas estás a falar do quê Marta? Desde quando querer usar preservativo numa relação é desconfiar de alguém?”“
-Então não é? Não te compreendo Sebastião, se já fizemos antes sem preservativo, para quê isso agora?” E quando eu julgava que este assunto era indiscutível, dei por mim a ter de justificar algo que não tem justificação, é um direito! A Marta não compreendeu e naquela noite decidiu fazer birra.
“-Ou é como eu quero, ou não é...” E não foi...
Agarrei no carro e voltámos para a Garça. Ela decidiu dormir na casa dos pais, o que não estava combinado, enquanto eu dormi na casa do Francisco e da Cristina. O facto de ter equacionado como importante usar preservativo numa relação jovem, imatura e possivelmente irresponsável veio a tornar-se num mau exercício. Não era essencial, mas fez-me impressão a sua irredutíbilidade perante uma questão de consciência individual. Penso que não seria sério pedir-lhe para usar qualquer meio contraceptivo como a pílula, mas o facto de me querer proteger, ou proteger esta relação, não lhe pareceu minimamente tentador.
Decidi não fazer muito caso do assunto e no dia a seguir tudo correu como normal; talvez tenha ficado aquele sentimento de desconfiança entre nós, mas deixei esse assunto para uma próxima vez. Cheguei a casa e cruzei-me com a Filipa no elevador, a sua saia curta era irresistível mas mantive-me preocupado com o que se passou com a Marta e optei por chegar a casa e tomar um banho frio. Deitado na banheira, questionava se devia ou não ceder nesta minha atitude. "Estarei eu a ser exagerado?" O que está em causa é o conhecimento (ou o desconhecimento) da Marta sobre a sexualidade. A sua juventude é exagerada em algumas questões e parece-me algo retrógrada. Foi importante o debate de questões como a maternidade e o desejo incessante de sair de casa dos pais, dúvidas que me fizeram pensar duas vezes antes de avançar naquela noite romântica. No entanto, e enquanto me enxaguo, persiste-me uma dúvida inconclusiva em jeito de revista Maria :"Estarei a perder o tal espírito do amor?"
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